Ao adentrarmos um Solo Sagrado, precisamos compreender o por quê de tirarmos os sapatos.
O sapato representa o que está amoldado a nosso pé, é a forma que acompanha o feitio dos nossos calos.
Deus diz ao ser humano como disse a Moisés:
-Descalça teus sapatos, retira de ti o habitual que te envolve e reconhecerás que o lugar onde estás nesse momento é sagrado. Porque não há lugar ou momento que não seja sagrado.
O sapato representa a proteção indispensável entre o ser e o seu meio.
O chão no entanto, é o pavimento da vida e ele não se ajusta às nossas pisadas. Sentir o chão é reencontrar a vida.
O caminhante precisa de sapatos para caminhar. Mas seu objetivo é poder descalça-los no momento certo e constatar que a terra sob teus pés é santa.
Embora úteis, não deixam de ser uma superfície artificial que nos isola do solo vivo. Sair da constrição destes fundamentos nos faz conhecer o alívio e a possibilidade de expansão.
(Nilton Bonder)
Acima dos sapatos estamos nós, isolados do solo, com nossos conceitos, crenças, verdades e vaidades. Já observou que a maioria das pessoas possuem uma compulsão em comprar sapatos? Estes belos objetos necessários, não nos bastam poucos e quantos mais se tem, mais nós possuímos crenças e conceitos pessoais.
Quando buscamos um solo sagrado, estamos necessitando expandir a nossa identidade individual para buscar a identidade coletiva e somente com os pés no chão poderemos conseguir esta façanha.
Precisamos reconhecer a importância de pisar num solo sagrado, pois nossas pisadas precisam criar “as pegadas do nosso caminho”. Precisamos deixar marcado no solo a forma de como conseguimos avançar rumo à identidade coletiva.
A nossa religião possui esta tradição e fundamento. Como Deus disse a Moisés: retire os sapatos dos teus pés pois estás pisando em solo sagrado. Retire suas crenças, seu ego, suas verdades, suas vaidades, seu desejo de poder, seus pensamentos negativos, suas sombras mais profundas e sinta verdadeiramente aquilo que pode trazer transformação.
Moisés foi um grande anfitrião. Possuía uma tenda aberta no deserto para receber todos os caminhantes. Alimentava-os, dava dormida, descanso e os deixava seguir. Mantinha-se sempre solícito a contribuir, porém, muitos não partiam e permaneciam junto dele prontos a também contribuir com os peregrinos.
Um solo sagrado é assim. Muitos chegam necessitando de acolhida, muitos tem sede, fome de coisas espirituais. O nosso papel é ser anfitrião. Dar de comer e beber a quem tem sede e fome. Fica quem fizer a opção de criar esta identidade coletiva, tirando os sapatos e trabalhando para o bem comum.
A proposta é que embora caminhemos em grupo, cada um faça o seu percurso e deixe suas pegadas, não na areia que o vento leva, mas as pegadas definitivas que criarão a sua história junto ao coletivo.
É uma bênção estar inserido num solo sagrado. É uma bênção sentirmos o chamado e verdadeiramente sabermos que somos orientados e guiados por Deus e Suas Manifestações de Luz que são os Orixás e Guias Espirituais.
Que possamos realmente “tirar os sapatos”. Deixar para trás e para fora da nossa Casa tudo aquilo que contamina as nossas pegadas.
Que possamos entrar de corpo e alma abertos para o bem comum e sabermos que a “Terra Prometida” que Deus ofereceu a Moisés, é o solo sagrado do nosso coração e da nossa alma. Nenhuma “terra prometida” poderá nos fazer feliz se não for através de um solo sagrado.
Somos abençoados e precisamos sentir isso.
Que o chamado de tirar os sapatos seja não apenas uma atitude física, mas um fundamento espiritual a ser conhecido e seguido para nos liberarmos de tudo que nos isola da realidade.
Axé!
Obaraiyê.