A relação com os Orixás Ancestrais, ou “Santos” popularmente falando, se estabelece numa seara pouco atingida pela maioria das pessoas de Candomblé, visto que vivem na periferia da fé, sem aprofundarem nas suas próprias essências.
Focadas em hierarquia, panos bonitos, contas coloridas, roupas bem elegantes, ficam as pessoas inebriadas por um universo ilusório do que realmente é o chamamento espiritual.
Como numa lista de supermercado, todos os dias pedimos “coisas” diversas e aguardamos uma solução mágica dos nossos problemas.
Caso nossa vida esteja bem, parabéns ao Axé, ao Terreiro, aos Orixás, enfim, conseguimos nos entregar, nos doar, sorrir e acolher o outro.
Do contrário, a primeira coisa que nos desligamos é do nosso Axé, da nossa Fonte, da nossa Raiz.
Nesta gangorra de emoções e necessidades criamos uma relação muito ínfima ou quase nenhuma relação com nossa verdadeira necessidade de estarmos numa Casa de Axé. Ficamos como que “falsos” filhos. Crianças espiritualmente imaturas e incapazes de gerir a nossa própria vida.
Há porém aqueles que sabem o que desejam da sua vida espiritual. São poucos, claro. Mas por eles vale a pena o trabalho rotineiro de socorro. Esses estão conectados intimamente com sua Fonte e criam raízes profundas no Axé.
Uma Casa Espiritual existe para todo tipo de pessoas. Cada um traz a sua bagagem e nela a sua “doença moral ou espiritual”. Todos são importantes. Nos humanizamos e nos espiritualizamos na convivência diária com o outro.
Cabe avaliarmos como é a nossa relação pessoal com nosso Orixá. Está fixada em quê? Onde está a razão da nossa fé? É uma moeda de troca e jogo de interesses ou estou no caminho espiritual por mim mesmo? Se acabar a utilidade do meu sacerdote para minha vida, ele passa a ser uma pessoa ruim? Qual o olhar correto que preciso desenvolver na minha Casa Espiritual? Vivo nos meus julgamentos pessoais e reagindo a tudo? Sou o dono da verdade?
São questões altamente complexas e com respostas individuais.
No dia em que entendermos que estamos caminhando por nós mesmos, pelos nossos resgates, para a correção dos nossos erros, para a busca de Luz no nosso processo pessoal, abraçamos a oportunidade de caminhar com nosso Orixá/Ancestral, pois Ele traz a nossa Luz e a nossa história enquanto almas, para que possamos nos reencontrar, um dia, com a Luz Infinita que nos criou.
Pensemos um pouco sobre nossa trajetória.
“O ignorante deseja falar muito. O sábio deseja escutar muito.
O ignorante não tem paciência com o outro. O sábio ama o outro incondicionalmente.”
Se você não ama o outro, não ama o seu Orixá.
Axé!
Zuleika Menezes