Voltando ao texto da semana passada:
Nesse momento de questionamento, minha mente conduziu-me à obra de Leonardo Boff, “A águia e a galinha”, onde o autor reflete a leitura de mundo, compreendendo-a como “reler e compreender, interpretar.” Fugindo à superficialidade, Boff afirma que “Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.”
Posto o texto A ÁGUIA E A GALINHA.
Leonardo Boff, um autor consagrado pela suas obras publicadas e que em seu livro A Águia e a Galinha, define muito bem o lado águia e galinha do ser humano, nos leva a autorreflexão de que podemos, o ser humano pode ser melhor do que é.
Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas.
Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
– Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.
– De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
– Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.
– Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
– Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!
A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.
O camponês comentou:
– Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
– Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe:
– Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!
Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.
O camponês sorriu e voltou à graça:
– Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
– Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas.
O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe! A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte. Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez mais para o alto. Voou… voou ”… até confundir-se com o azul do firmamento…”
Se considerarmos que a Verdade de cada tem haver com “o lugar onde pisa”, é necessário avaliar esse lugar.
Tem pouco tempo a Mentora da Casa, Vó Luíza, nos falou sobre o porquê da busca pela Casa:
1º ) Uma necessidade particular, pessoal – saúde, perdas, amor, …
2º) Uma necessidade maior, coletiva – percepção de AXÉ.
Dentro do AXÉ , sentiremos, sempre, a necessidade de alçar vôos de liberdade encontrada na nossa consciência de DEUS. SOMOS ÁGUIAS!!
Não ter consciência do Divino não significa que não somos divinos.
Xangô nos quer ÁGUIAS. O chão sagrado não nos faz galinhas.
Podemos ter chegado galinhas, mas … .
Não podemos perder a luta entre o profano e o sagrado.
Quando nossos pés pisam no chão de Xangô, queremos ser águias, mas as nossas atitudes nos fazem ciscar com galinhas.
“Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Mas há pessoas que nos fazem pensar como galinhas. Mas nós somos águias. Por isso, abramos as asas e voemos. Voemos como águias. Cada pessoa tem dentro de si uma águia. Ela quer nascer. Sente o chamado das alturas. Busca o sol. Por isso somos constantemente desafiados a libertar a águia que nos habita. Sejamos águias em nossas vidas e não galinhas!
E você, já se preparou para alçar seus vôos?”
(Parábola citada em livro de Leonardo Boff)
SEJAMOS ÁGUIAS
Yá-Irawó (Estela Jardim)