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A justiça divina e a questão do merecimento

Merecimento & Paz

Todos nós temos exatamente aquilo que merecemos,
ainda que, a nossa aceitação, a nossa compreensão
ou o nosso entendimento não se faça nesta existência,
mas se faça em nossas existências passadas…
porque todas as coisas estão absolutamente
corretas perante a Justiça Divina.

Merecimento é justiça se tornando amor. Tudo que favorecemos para os outros, cria, por lei, um favorecimento para nós. Tudo que dermos, sobre as vistas do bom senso, propicia que mãos generosas preparem dádivas para nós. O que fazemos de bom para a coletividade, ela, mesmo inconsciente, nos devolve, sob a vigilância do Criador. Não obstante, se a usura se apoderar de nossos corações, estipulando preços pela fraternidade mudamos de endereço antes que a justiça nos alcance, e o pagamento fica sendo feito pelo outro.

Na Terra, certamente, os justos sofrem não porque sejam justos.

É porque seu quilate de justiça precisa aumentar, na sequência do seu aprumo espiritual, e os métodos mais seguros são ainda, as dores e os problemas. As aparentes injustiças são canais benfeitores.

O próprio Jesus abordou de modo claro e sintético a questão do merecimento ao afirmar: “A cada um, segundo suas obras”. Para ficarmos ainda nos Evangelhos, encontramos em Mateus (cap. VII, 7 a 11) a recomendação: “Pedi e se vos dará; buscai e achareis; batei à porta e se vos abrirá”. Ou seja, a fé em Deus não dispensa o esforço individual para obter o que se deseja. Para a Doutrina Espírita, a fé sem obras não tem valor. Ela tem que se apresentar de modo ativo, dinâmico, autêntico. Não basta a manifestação verbal sem a vivência prática. Inútil à fé que se verga diante da primeira dificuldade, que não persevera. E principalmente tem que estar de acordo com a razão, não contrariar a lógica e o bom senso. Em outras palavras, é inaceitável e perigosa a fé cega, alimentada pela ignorância condutora ao distanciamento da verdade e ao fanatismo.

Assim, é natural que o merecimento seja proporcional ao nosso trabalho no bem. E quando digo isso não me refiro somente à caridade, à esmola. Qualquer atividade que possa contribuir com o aperfeiçoamento do indivíduo, seja físico, intelectual, social ou moral, traz como consequência novas oportunidades de construção de si mesmo. Pela lei de Causa e Efeito, sempre recebemos o retorno de cada pensamento, palavra, expressão de sentimento ou ato praticado. Porém, ela funciona nas duas vias, isto é, tanto para o bem, paz e felicidade, como para o mal, perturbação e desconforto. Resumindo: a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória.

Os frutos bons todos apreciamos. O difícil é deglutir os frutos amargos que as sábias e perfeitas leis da vida se nos impõem por força de nossas escolhas infelizes anteriores. Nessa situação, hora de expiações e provas, temos que apresentar nosso testemunho de fé verdadeira e nos resignar graças à compreensão de que as vicissitudes pelas quais estamos passando não representam determinismo divino ou capricho do destino.

Não há privilégios, boa estrela, sorte ou azar. A lei de justiça divina se distribui no tempo mediante o mecanismo da reencarnação. Por isso, ao olhar em redor temos a falsa impressão de que os bons e honestos sofrem enquanto os agentes da maldade e corruptos prosperam impunemente. Mas, em algum ponto do futuro, todos teremos que nos defrontar com as próprias consciências culpadas pelas agressões perpetradas contra a natureza e todos os seres vivos, especialmente os humanos.

 

           Deus é a suprema inteligência do Universo e causa primária de todas as coisas, conforme a pergunta n° 1 de O Livro dos Espíritos. Desta forma, ele concede ao homem agir pelo seu livre-arbítrio para que o mesmo desenvolva-se espiritualmente até atingir estágios superiores de perfeição relativa em confirmação às palavras do Cristo “sois deuses” que refletem toda a potencialidade do espírito imortal. Portanto, pertencerá a cada indivíduo tanto o mérito pelas vitórias adquiridas sobre seus instintos inferiores como também os resultados desastrosos de seus descontroles.

 

O homem deveria ter sempre em vista a transitoriedade da vida material em que se encontra. Ele não é um corpo equipado com a lucidez de uma mente ou espírito, mas um espírito temporariamente revestido de um corpo físico que lhe serve de instrumento enquanto atua no palco da vida terrestre. Enquanto não aceitar isso, permanece em equívoco grave sobre si mesmo e seu futuro. Por conta dos interesses materiais distorce sua escala de valores privilegiando sempre justamente aquilo que menos lhe pode ser útil. Como nos alerta também o Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo XVI, ao falar sobre “A verdadeira propriedade”, no momento de acerto de contas, após a desencarnação e chegada no mundo espiritual, não nos perguntarão quantos bens possuíamos ou que posição social ocupávamos. Simplesmente nos indagarão o que temos nas mãos, a soma de virtudes, os tesouros a que Jesus se referiu, aqueles “imunes à ação dos ladrões, das traças e da ferrugem”.

Antes de mais nada é preciso seguir o ensinamento socrático “Conhece-te a ti mesmo”. Na verdade, a imensa maioria de nós comporta-se de modo inadequado na ilusão quanto ao que somos nossa natureza íntima. E, mais importante ainda que nos reconhecermos como espíritos imortais e responsáveis pelo próprio destino, é aprendermos a descobrir nossas qualidades e defeitos, potencialidades e imperfeições, primeiro passo para a correção de rota em nossas vidas. Vidas, assim mesmo, no plural, pois todo esforço positivo carrega em si a energia capaz de alterar o presente e o futuro, desta reencarnação e das próximas, além do tempo de permanência na dimensão espiritual.

A reforma íntima exige esforço e perseverança, o que significa acrescentar também muito tempo. Prazo este que nem sempre é suficiente o que temos disponível nesta etapa reencarnatória. Afinal, ainda que por caminhos tortuosos, nós estamos tentando fazer isso há milênios. Por tentativas e erros, a duras penas, estamos aprendendo que o mal não compensa que só nos faz sofrer e torna cada vez mais distante a felicidade. Cada existência é um novo curso que frequentamos. Alguns poucos são diplomados com louvor; muitos são aprovados nos limites da avaliação e tantos outros são reprovados e terão que recomeçar na próxima vida letiva.

Nada que seja legítimo e duradouro para o espírito é alcançado sem muito trabalho, lutas e renúncias. É o preço a ser pago por aqueles que já se conscientizaram que a vida material é passageira e que, embora seja justo vivê-la bem, o mais importante é o patrimônio espiritual. Riqueza, fama, poder, beleza, nada disso tem valor para o espírito.

E por que as pessoas não mudam seu foco, então?

Por que insistem em agir como se só existisse o “aqui” e o “agora”?

Por que há escassez de informação consistente e racional sobre a nossa origem, natureza e destino. Por desconhecimento ou má fé, por fanatismo ou interesses espúrios, aqueles que deveriam orientar e preencher as lacunas de dúvidas angustiantes e sombras intelectuais das pessoas acabam por criar mundos de fantasias, bons demais ou maus demais, irreais ambos. Fórmula perfeita de contornar esse problema foi enunciado pelo Espírito Verdade “Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instrui-vos, este o segundo”.

 

Axé,

Odékainã