PARTE V
Mudanças recentes em cultos de caboclo na perspectiva de um chefe de terreiro.
Encantados
O legítimo encantado, além de não fazer uso de comidas sólidas, não bebe e nem fuma no barracão, enquanto as demais entidades, nos outros cultos, sim. O encantado, como o vodum, usa toalha, às vezes com um ponto riscado desenhado ou pintado na mesma. Não é regra o encantado dar passe ou consulta, o que é praxe na Umbanda e nos Candomblés de Caboclos.
O encantado da mina teve vida, mas não morreu. Perdeu o corpo físico, mas não houve a morte, ele se transformou. Não é considerado egum e nem catiço. Na visão dos outros cultos, é uma entidade que viveu no nosso mundo e morreu. Está no nosso meio numa possível evolução espiritual, no sentido de estar cumprindo missão. Não é essa a concepção do tambor-de-mina.
Observa-se que toda família de encantaria e outras mais têm costumes próprios, sistemas familiares, cantigas e uma chefia que se repete em todos os terreiros de mina que têm uma verdadeira origem.
A Umbanda é bem posterior a encantaria de nobres de caboclos e por isso vemos suas entidades como derivações branquedas daquelas que são cultuadas no tambor-de-mina, ou ainda como encantados-caboclos descendentes. Acredito que a encantaria de mina é a raiz, a base, a ancestralidade dessas entidades. Algumas se mantiveram mais originais, outras foram se modificando com o passar dos anos.
Baianos
Para a mina, os baianos seriam uma família de encantaria pouco difundida e com poucos membros conhecidos e que recebe festa no dia 27 de setembro, tendo na chefia Baiano Grande Constantino Chapéu de Couro, dona Chica Baiana e Baianinho. Às vezes se aproximam dos codoenses, sendo seu aparentados, em outras são parentes da família da Turquia.
Na Umbanda, os baianos seriam certo tipo, não bem definido, de caboclos nordestinos e que tem no estado da Bahia sua origem principal, algumas vezes dizendo-se pernambucanos ou paraibanos. Essas entidades são bem definidas em São Paulo, mas desconhecidas em outros estados, principalmente no Rio.
O baiano na Umbanda fala um “baianês” estereotipado, gosta de batida de coco, como farofa com pimenta e faz magia em cocos secos com pólvora. Usam roupas que lembram os cangaceiros. Entre outros, aparecem Lampião, Mestre Virgulino, Maria Bonita, Malandrinho, Baiano Jerônimo, a Baiana Glória e Maria Redonda.
Mestres da Jurema
Essa linhagem de entidades espirituais não é cultuada no tambor-de-mina, a não ser nos casos de filhos originários do nagô-vodum ou do Xambá, e que já os carregavam, sem que eles tenham sido despachados. O mesmo acontece com os candomblés de caboclo e aí vai-se diluindo mais e mais o que seriam os mestres.
Estes aparecem na Umbanda completamente confundidos com baianos (mais de origem pernambucana, paraibana ou alagoana), sobretudo quando o terreiro começa a generaliza entidades que fogem das classificações tradicionais. Outras vezes são confundidos com Exus e Pombagiras onde, me parece, o lado feminino tem mais destaque. É mais comum dizer que uma mestra é Pombagiras do que baiana. Assim transformaram-se em Pombagiras Mestra Luziária, Mestra Paulina, Mestra Ritinha, etc.
Os mestres devidamente cultuados no catimbó formam um novo culto religioso e são grandes curadores, usando muito a fumaça de seus cachimbos para suas magias. É uma fumaça que via buscar o destinatário, levando recados, curas ou malefícios. No catimbó, usa-se a jurema como bebida, sendo jurema também o nome do próprio culto. Dentro da jurema aparecem os caboclos e os mestres, com divisões profundas e complexas.
Este breve relato indica muitas linhas de transformações, influência e empréstimos por parte dos encantados no diferente cultos afro-brasileiros. De toda sorte, tias mudanças merecem um estudo mais pormenorizado, pois esse processo está em permanente movimento e já são muitas e muitas as alterações sofridas por essas entidades nos vários cultos afro-brasileiros em que se apresentam.
Assim chegamos ao fim deste tema, que viemos abordando a várias semanas.
Odékainã.
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