PARTE II – FINAL
Carlos Caroso*
Núbia Rodrigues**
“o princípio dinâmico da existência cósmica e humana é simbolizado nas religiões ioruba e fon, pela divindade Exu. Exu é um princípio.
Participa de todos os domínios da existência cósmica e humana (…)
Exu transporta o asé, mantendo a intercomunicação entre os diferentes
Domínios do universo. A força vital é única e várias são as suas manifes-
tações, transmitidas através de Exu aos seres e domínios do universo.”
(op. cit: 26)
Vemos acima como Trindade (1985), analisa os múltiplos significados na mitologia africana atribuídos a Exu.
A respeito do papel de Exu na tradição afro-brasileira, Valente (1977) afirma: “Exu é, na verdade, o Mercúrio africano, o intermediário necessário entre o homem e o sobrenatural, o intérprete que conhece ao mesmo tempo a língua dos mortais e a dos Orixás.
Do ponto de vista dos adeptos das religiosidades afro-brasileiras, a entidade Exu, também assume um papel muito mais dinâmico e ambivalente, pois é o pleno senhor de um universo onde bem e mal não apresentam limites definidos. Exu domina o mundo em que vivemos, no qual se inscreve a vida cotidiana daqueles que “cuidam” dele. Neste sentido, as reinterpretações distanciadas da doutrina oficial acabam se mantendo mais próximas ao universo cultural originário do Exu, ou seja, o contexto africano.
“… o papel de intermediário entre os deuses e os homens associa Exu ao
culto de Ifá (o destino), mostrando sua importância enquanto mensageiro
divino (…) Exu aparece então como tradutor das palavras divinas, por isso
ele introduz o acaso na ordem do mundo; enquanto intérprete das mensagens divinas, ele detém um poder de avaliação, que lhe permite alterar o destino dos homens.”
A característica acima apontada por ORTIZ, mostra Exu como mensageiro, intérprete da vontade dos deuses e como portador de um poder de alterar destinos. Em outras palavras, aí reside à ambivalência dos significados que lhe são atribuídos.
Axé,
Odékainã.
Fonte:
* Doutor em Antropologia pela Universidade da Califórnia em Los Angeles.
** Doutoranda em Saúde Pública pela Universidade Federal da Bahia e Professora Assistente do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas dessa universidade.
Encantaria Brasileira – O livro do Mestre, Caboclos e Encantados (Reginaldo Prandi).