Passei muitas horas da semana passada dentro do Terreiro.
A cada Obrigação suas peculiaridades.
O aprendizado é certo!
O querer acertar, fazer o melhor nos aprimora!
Intenso é a palavra para definir uma Obrigação. Ficamos juntos muito tempo! Queremos dar o melhor!
O foco: OS ORIXÁS!
Esbarramos com o que cada um tem de melhor e, também com as suas (minhas) verdades.
Num intervalo do XIRÊ, sentei-me na mureta da varanda, quase de frente do Mural – FALAS DE VÓ LUÍZA.
Meu olhar foi direto para a fala sobre VERDADE.
VERDADE – PONTO DE VISTA DE CADA UM!!!
Pensei nessa fala o tempo todo desde então, sempre que minha mente se esvaziava.
Refletindo!
Analisemos o que consideramos a Nossa VERDADE!
Observamos facilmente:
Sobre Verdade só posso dizer que estamos numa casa de XANGÔ – faceta da JUSTIÇA DIVINA!
Pesquisando, procuro especialistas, ainda assim, são pontos de vista.
“Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus que se haviam zangado. Cada um me contou a narrativa de por que se haviam zangado. Cada um me disse a verdade. Cada um me contou as suas razões. Ambos tinham razão. Ambos tinham toda a razão. Não era que um via uma coisa e outro outra, ou um via um lado das coisas e outro um lado diferente. Não: cada um via as coisas exatamente como se haviam passado, cada um as via com um critério idêntico ao do outro. Mas cada um via uma coisa diferente, e cada um portanto, tinha razão. Fiquei confuso desta dupla existência da verdade.”
Fernando Pessoa
Ontem, participando de uma conferência, foi mencionado esse trecho da obra de Fernando pessoa que transcrevi acima. Como não poderia deixar de acontecer, as linhas conduziram meus pensamentos a uma reflexão acerca da verdade, e gostaria de compartilhá-la!
Apesar da profundidade da reflexão, e também da relevância que o tema “verdade” provoca no ser humano há alguns séculos, nesse momento específico de crise mundial – econômica, ética, moral e política de modo global, o encontro dos amigos reflete, de modo quase preciso, um conceito de verdade subjetivo, que passa pelos olhos daquele que avalia os fatos em conformidade à sua ótica.
Muito se ouve, muito se fala, mas a pergunta que não cala é, justamente, “qual é a verdade?”.
O que podemos afirmar dos FATOS, em detrimento aos boatos?
Nesse momento de questionamento, minha mente conduziu-me à obra de Leonardo Boff, “A águia e a galinha”, onde o autor reflete a leitura de mundo, compreendendo-a como “reler e compreender, interpretar.” Fugindo à superficialidade, Boff afirma que “Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.”
A beleza de Fernando Pessoa e a reflexão de Leonardo Boff se completam, precisamente, no momento em que, compreendendo o modo como alguém afirma a SUA verdade, acabamos conhecendo como seus olhos vêem e também a sua visão de mundo. Pessoas que pisam solos inférteis, contaminados com as inverdades do mundo injusto e marcado pela mentira conveniente, certamente avaliarão as coisas, as pessoas e as situações mais diversas segundo a sua ótica. Verão problemas porque pisam solos problemáticos, verão decepção pois estão vivendo tal realidade, condenarão por conta de estarem sendo (ou se sentindo) condenados, apontarão como verdade a injustiça por se sentirem (ou estarem sendo) injustiçados.
Refletir o poema de Fernando Pessoa e a obra de Leonardo Boff, sou conduzido a uma incipiente compreensão dos porquês de uma parcela (cada dia mais significativa) da sociedade estar criando verdades a partir do chão que pisam.
Segundo Boff, “todo ponto de vista é a vista de um ponto” e, assim como o encontro dos amigos narrado por Pessoa, “Ambos tinham razão. Ambos tinham toda razão.” (grifo nosso). Se nossa cabeça pensa a partir de onde nossos pés pisam, passo a refletir sobre qual é a verdade que elegemos para nós, já que vemos as mesmas coisas e elas nos parecem distintas em sua essência.
Ainda parafraseando o pensamento de Leonardo Boff, para que se compreendam as “verdades eleitas” é preciso conhecer o lugar de onde se olha, o modo como esse leitor vive, com quem convive, que desejos alimenta em seu interior, já que são esses elementos que fazem com ele interprete os FATOS.
Assim como uma investigação policial faz uso de estratégias e recursos dos mais variados possíveis – recursos científicos que procuram isentar do erro o avaliador, o pensamento humano requer uma dose cavalar de bom senso, de critérios imparciais, de revisão do próprio chão que se pisa, ou seja, da própria estrutura humana, para que, de posse de si mesmo, não se verbalizem ou se elejam verdades parciais, já que essas não são verdades absolutas.
Há quem diga que não há verdade absoluta!
Eu, porém, prefiro acreditar e conduzir meus caminhos por uma estrada que não seja minha, nem sua, nem de ninguém. Prefiro ter a autonomia e a imparcialidade de avaliar somente os fatos, mesmo que isso seja difícil, já que toda avaliação é, em algum momento, parcial.
O “remédio” que encontrei e tenho procurado alimentar-me dele a cada dia, é fincar meus pés na realidade. Não na minha realidade, tampouco na realidade de ninguém externo a mim, mas naquilo que me isente de qualquer parcialidade que me coloque acima ou sobrepujado a interesses que não são reais, ou a elucubrações de uma mente que, vazia de sentido, se coloca a impor verdades inexistentes, e a punir pessoas segundo nossos critérios pessoais.
Mas afinal, o que é, ou quem detém a verdade?
É muito importante que nos despojemos das NOSSAS VERDADES e pensemos na necessidade de avaliar cada situação ou cada opinião como sendo o a melhor que o outro pode fazer, respeitando o seu chão e o seu fazer.
Uma semana cheia da energia de equilíbrio de Xangô!!!
Estela Jardim